segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mensagem aos religiosos e religiosas da Europa
Nós, membros de 37 Conferências nacionais dos religiosos e religiosas da Europa (UCESM), estivemos reunidos em Czestochowa para reflectir sobre o tema: “Vida Religiosa na Europa: histórias de esperança, esperança para a história”.
Vivemos uma forte experiência de comunhão e de presença do Senhor durante a visita ao campo de extermínio de Auschwitz, aos lugares das raízes cristãs da Polónia em Cracóvia e da profunda espiritualidade nos santuários de Nossa Senhora de Jasna Gora e da Divina Misericórdia.
Vida religiosa na Europa, não temas! – eis a palavra que ouvimos. – Continua a testemunhar a esperança ao homem e à mulher do nosso tempo. Sê tu mesma esperança para a história de hoje e de amanhã, como foram tantas testemunhas e mártires, entre os quais Edith Stein e Maximiliano Kolbe. Tem a coragem de cantar a vida, juntamente com o “Cordeiro de pé, como que imolado” (cf. Ap. 5,6) no coração da história de todo o tempo e de toda a vida humana.
Vivemos numa época em que tantos homens e mulheres procuram uma felicidade sem Deus… e só encontram frequentemente o tédio e a ausência de sentido. Também nós podemos ter a tentação de abandonar a paixão da esperança. E no entanto, cada dia, vivemos uma grande esperança quando vemos que, na raiz dos desejos dos nossos irmãos e das nossas irmãs, há uma profunda necessidade de espiritualidade e uma procura de transcendência. Quem poderá saciar esta fome e esta sede?
A vida religiosa, dom de Deus para a Igreja e para o mundo, sempre abriu, ao longo da história, caminhos de esperança: dar o coração a Deus e as mãos ao próximo. Hoje, é esta a nossa missão. Que as nossas casas sejam lugares de hospitalidade para todos, espaços de oração, de caridade activa e de comunhão fraterna, reflexos da luz que brota da fonte de toda a esperança: Jesus Cristo morto e ressuscitado por todos.
Somos desafiados a ser parte activa das profundas transformações que está a viver o nosso continente. A acção do Espírito Santo dá-nos a coragem e a determinação de sermos mensageiros de esperança para o futuro da Europa. Com Maria, queremos viver na escuta da Palavra e no acolhimento do Espírito Santo para participar na missio Dei e estar em diálogo com todos.
Irmãos e Irmãs, na alegria de termos vivido a experiência “do tempo favorável que se torna breve”, regressamos às nossas casas dizendo: “Maranatha! Vem, Senhor Jesus!”. Que a nossa esperança seja clara e forte, porque Aquele que nos chamou a esta forma de vida diz-nos: “Sim, venho depressa!” (cf. Ap. 22).
Czestochowa, Polónia, 8-14 de Fevereiro de 2010
14ª Assembleia Geral da UCESM
(fonte Agência Ecclesia)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Concluye el proceso diocesano
para la beatificación
de las Mártires Concepcionistas de Escalona
El pasado 3 de febrero se clausuró en el arzobispado de Madrid el proceso diocesano de las Concepcionistas de Escalona que murieron durante la persecución religiosa en el año 1936.
Las 296 religiosas asesinadas durante la Guerra Civil española pertenecieron a un total de 57 congregaciones religiosas. Catorce de ellas pertenecían a la Orden de la Inmaculada Concepción (monjas Concepcionistas).
Las Siervas de Dios sor María de San José Ytoiz, abadesa de la Comunidad de Escalona desde 1911 y su Vicaria, sor Asunción Pascual Nieto, son dos de las mártires que pertenecen a este grupo de 14 religiosas de las monjas Concepcionistas (más 10 de la comunidad de Las Rozas y dos de El Pardo).
Según testigos el 28 de julio de 1936 las monjas que formaban la comunidad en Escalona fueron obligadas a abandonar su monasterio. Recogidas en diversos domicilios de Escalona, durante el primer día fueron visitadas y confortadas espiritualmente por su capellán, el Siervo de Dios Teógenes Díaz-Corralejo Fernández, natural de Lucillos, que también sería asesinado junto al párroco dos días después.

En Madrid

El 16 de septiembre trasladaron a todas las religiosas a la Comandancia de Escalona donde fueron interrogadas y presionadas para abandonar la vida religiosa. Ante la resistencia de las monjas, son conducidas a la Dirección General de Seguridad en Madrid. Dos días después son llevadas a la cárcel habilitada en un convento de Capuchinas. Al finalizar la contienda toda la Comunidad regresaría a Escalona, a excepción de sor María de San José y sor Asunción.
Un testimonio valiosísimo declara que separadas, sin saber el motivo, del resto del grupo fueron conducidas a una checa. Sabedor de lo sucedido, y como él pasaba temporadas en Madrid, las buscó, las reconoció a pesar de que iban vestidas con ropa seglar, y conversó con ellas, alegrándose mutuamente. Uno de los días que acudió a su encuentro, contempló los cuerpos de las religiosas que habían sido fusiladas. Eran los últimos días del mes de octubre de 1936.
Tras el trabajo de las actuales monjas y del vicepostulador el P. Raineiro García, capuchino, presidiendo el Tribunal en nombre del Cardenal de Madrid, don Ricardo Quintana Bescos, Delegado Episcopal para las Causas de los Santos, se ha concluido la fase diocesana.
JORGE LÓPEZ TEULÓN
http://www.architoledo.org/Padre%20Nuestr/2010/PN%201117%2021%20de%20febrero.pdf
(Fonte: cf. «PADRE NUESTRO»,
publicacion semanal del arzobispado de Toledo,
año XXVII, nº 1117, 20/21 de Febrero de 2010)

Renúncia Quaresmal 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

...passo-a-rezar
É uma imagem de marca lançada pelos Jesuitas no início desta Quaresma. Pretende que todos rezem sem sair do lugar. Pode descarragar-se ouvir no MP3 ou Ipod. Pode simplesmente ligar-se o computador, aceder-se a http://www.passo-a-rezar.net/ e escolher o dia respectivo para rezar ouvindo, ou pode descarregar e ouvir onde quiser. Já está disponível até ao dia 25 de Fevereiro. Aproveite esta oportunidade para rezar e rezar com qualidade nesta Quaresma.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mensagem Quaresmal do Arcebispo de Évora
Deus ama quem dá com alegria
A dezassete de Fevereiro inicia-se, mais uma vez, a longa caminhada quaresmal de preparação para a solenidade da Páscoa – centro, fonte e auge da vida cristã. A importância única dessa solenidade justifica que a preparação que lhe é dedicada pela Igreja tenha também um carácter mais alongado e abrangente. Na multissecular tradição cristã, a preparação da Páscoa está intimamente associada à preparação próxima dos adultos para o Baptismo, celebrado na noite da Vigília Pascal, e constitui um tempo alongado de purificação espiritual, com recurso aos meios tradicionais da ascese cristã, que podemos resumir a três: oração, mortificação e partilha. Nenhum destes meios se justifica por si mesmo. Eles adquirem significado e valor espiritual na medida em que induzem e possibilitam um processo de conversão interior, em ordem a aproximar cada fiel do modelo de todos - Jesus Cristo.
Alguns, mais imbuídos da mentalidade hedonista, continuada e persistentemente apregoada de muitas formas na nossa sociedade, talvez não encontrem uma justificação plausível para este apelo à conversão que a Igreja todos os anos repete no início da caminhada quaresmal. Mas aqueles e aquelas que acolheram no coração a mensagem evangélica e a tomam como norma de vida, estão cientes da necessidade da conversão e reconhecem na partilha dos dons recebidos da mão de Deus um meio eficaz para a alcançar. Na verdade, a partilha dos bens é uma forma privilegiada de exprimir o amor ao próximo, que é a essência do cristianismo.
A partilha dos bens com os outros é, antes de mais, uma imitação dos gestos gratuitos de Deus para com a humanidade por Ele criada e enriquecida com múltiplos dons naturais e sobrenaturais. As raízes da partilha alimentam-se da religião bíblica que exige a todos o amor dos irmãos e determina formas concretas de o praticar. Como acontece, por exemplo, ao impor que se deixe uma parte das colheitas para os pobres (Dt 24,20), que se pague o dízimo trienal em favor dos que não têm terras (Dt 14,28) e que aos apelos dos pobres se responda com generosidade (Dt 15,20) e com delicadeza (Sir 18,15).
Mas São Paulo, ao escrever aos cristãos de Corinto, vai mais longe. Segundo ele, a esmola não deve ser praticada como simples gesto de filantropia. Pois toda a esmola feita com sentido cristão está carregada de significado religioso e simbolismo eucarístico. Ela é sinal e símbolo da comunhão que deve existir entre os membros da assembleia eucarística. Pode mesmo significar a unidade que existe entre diferentes comunidades cristãs. E foi esse o significado que ele deu à colecta levada a cabo nas comunidades cristãs estabelecidas no ambiente pagão, a favor da comunidade pobre de Jerusalém. A tal colecta São Paulo chegou mesmo a atribuir um carácter sagrado designando-a por ministério e liturgia (2Cor 8,4; 9,12).
Com esse gesto de caridade, São Paulo pretendia eliminar as diferenças e fortalecer os laços de comunhão entre as igrejas da diáspora e a igreja mãe de Jerusalém. É certo que a comunhão é um fruto amadurecido pela graça do Espírito. No entanto, não há fruto sem sementeira. E esta tem que ser feita por cada um de nós. Tal como acontece na agricultura, é preciso semear abundantemente (2Cor 9,6) para que a colheita também venha a ser abundante. Ora foi esse o belo exemplo dos cristãos da Macedónia. O Apóstolo Paulo elogia-os, porque no meio das muitas tribulações com que foram provados, a sua superabundante alegria e extrema pobreza transbordaram em tesouros de generosidade (2Cor 8,2). E foram eles que, com toda a espontaneidade e muita insistência, pediram a graça de participar no serviço em favor dos santos.
A exemplo de São Paulo, este ano também eu peço aos cristãos de todas as comunidades diocesanas, mesmo aos mais pobres, que espontaneamente e segundo as suas possibilidades, cada um ponha de parte o que tiver conseguido poupar (1Cor 16,2) e o entregue na celebração eucarística como gesto de comunhão com as três paróquias novas e pobres que estão a construir a sua igreja paroquial, sem as habituais comparticipações das entidades oficiais. Trata-se das paróquias de Foros do Arrão, Foros de Vale de Figueira e Silveiras. Quanto à promoção da Renúncia Quaresmal, procederemos do mesmo modo que nos anos anteriores. E peço à Caritas Diocesana que organize a distribuição desta mensagem e dos respectivos envelopes por todas as paróquias.
Quanto à recolha do produto da Renúncia, este ano seguiremos um método diferente dos outros anos. Cada pároco, durante o mês de Abril, entregará o produto da Renúncia Quaresmal das suas paróquias ao Vigário da Vara. Este, por sua vez, fará a entrega da soma recolhida na Vigararia à Cúria Diocesana, que dividirá o total em três partes iguais para distribuir pelas paróquias contempladas.
Pela minha parte, seguindo o exemplo de São Paulo, que foi pessoalmente a Jerusalém, acompanhado de alguns dos seus colaboradores, para entregar o produto da colecta, também eu, no dia 30 de Maio, irei pessoalmente, acompanhado por alguns representantes das três Zonas Pastorais da Arquidiocese, entregar a cada uma das três paróquias o resultado da Renúncia Quaresmal deste ano.
Estou certo que as três paróquias contempladas com a nossa generosidade sentirão grande alegria por poderem dar algum avanço às obras da igreja paroquial que há tanto tempo desejam ver concluídas. Certamente, a nossa alegria ao dar será ainda maior do que a delas ao receber. Sejamos generosos e alegres na dádiva, para que o amor de Deus cresça em nós, pois Deus ama quem dá com alegria.
Évora, 25 de Janeiro de 2010 e Festa da Conversão de S. Paulo
+ José, Arcebispo de Évora
Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2010
A justiça de Deus
está manifestada
mediante a fé em Jesus Cristo

(cfr Rom 3, 21–22)
Queridos irmãos e irmãs,
Todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida à luz dos ensinamentos evangélicos. Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21–22).
Justiça: “dare cuique suum”
Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romano do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais íntimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado à sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena à morte centenas de milhões de seres humanos por falta de alimentos, de água e de medicamentos -, mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Mais do que o pão ele de facto precisa de Deus. Nota Santo Agostinho: se “a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu… não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).
De onde vem a injustiça?
O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativa ao alimento, podemos entrever nas reacções dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua actuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingénua e míope. A injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista: “Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha, adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, colhendo o fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram à lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição; à lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?
Justiça e Sedaqah

No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente" (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De facto sedaqah significa, de um lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva (cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei, pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egipto (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre (cfr Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro (cfr Ex 22,20), o escravo (cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto-suficiência, daquele estado profundo de fecho, que é a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efectuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente para a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?
Cristo, justiça de Deus

O anúncio cristão responde positivamente à sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De facto não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vítima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25)
Qual é portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O facto de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objecção: que justiça existe lá, onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira, cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidência que o homem não é um ser autárquico, mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto-suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um facto natural, cómodo, óbvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Graças à acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é a do amor (cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Precisamente fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autêntica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.
Vaticano, 30 de Outubro de 2009
BENEDICTUS PP. XVI

domingo, 14 de fevereiro de 2010

“Os monges não têm missões particulares:
se são fiéis à vocação que receberam
«são sinal»,
são como sinais no caminho,
nada mais…”
da Homilia de frei Enzo Bianchi na vigília da Transfiguração de 2009.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

26.ª Semana de Estudos
sobre a Vida Consagrada
A 26.ª Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada começa este Sábado, em Fátima. Durante quatro dias, os cerca de 1100 inscritos vão reflectir sobre as diversas faces da esperança e da alegria reveladas na parábola evangélica das bem-aventuranças.
“Queremos ser sinal visível de uma realidade diferente daquela em que a sociedade portuguesa está mergulhada”, afirmou à Agência ECCLESIA a secretária-geral da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, Ir. Maria Manuela Oliveira.
O tema do encontro – “Vida Consagrada, mensageira de esperança e alegria” – pretende rever atitudes como o desprendimento, a mansidão e a misericórdia, com vista ao aperfeiçoamento da vida pessoal e à melhoria do contributo para a transformação da realidade.
As 15 conferências vão aprofundar algumas das especificidades da consagração religiosa, como é o caso do convívio comunitário, a oração contemplativa e o apoio a crianças, jovens, doentes, idosos e excluídos. A pertinência das bem-aventuranças será sublinhada através de intervenções sobre a justiça, a compaixão e a paz, entre outros aspectos.
A vida dos consagrados vai também ser lida à luz da encíclica “Caritas in veritate”, de Bento XVI: “Gostaríamos que a última encíclica do Papa fosse um pouco mais conhecida e explorada nas suas diferentes vertentes”, explicou a religiosa.
Antes de serem testemunhas da alegria proporcionada pelo seguimento de Jesus Cristo, os consagrados precisam de a experimentar quotidianamente: “Sonhamos com uma Igreja mais aberta à esperança e radicada na profundidade de vida espiritual que os religiosos e religiosas devem ter”, referiu a Ir. Maria Manuela Oliveira.
A entrega total de vida – manifestada na oração, convivência fraterna e serviço à sociedade – prefigura a comunhão plena com Deus, prometida para depois da existência terrena. A actividade diária e a meditação nas realidades que hão-de vir oferecem aos consagrados a oportunidade de serem porta-vozes de Deus na cultura contemporânea.
“Os profetas de antigamente anunciavam e denunciavam. Hoje, o religioso e a religiosa têm de assumir estas dimensões”, assinalou a Ir. Maria Manuela. E concluiu: “É difícil ser profeta mas temos de o ser”.
(Fonte: Agência Ecclesia)
Quatro monjas do Mosteiro de Campo Maior, extraordináriamente e com autorização do Senhor Arcebispo, participam, este ano na Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada, pois na 3ª feira (15 de Fevereiro), sor Inês da Cruz e sor Inês da Santíssima Trindade, participam no painel de testemunhos: "Testemunhar a alegria na Vida Consagrada" testemunhando "A alegria na Vida Contemplativa". Para além das monjas citadas, estão também a Abadessa, Madre Maria dos Anjos e sor Maria Manuel da Anunciação.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Vida de Clausura...
Expressão sensível de uma oferta de toda a vida vivida em união com a de Cristo, a vida de clausura, fazendo sentir a precariedade da existência, convida a contar unicamente com Deus. É também "o lugar da comunhão espiritual com Deus e com os irmãos e irmãs, onde a limitação dos espaços e dos contactos ajuda à interiorização dos valores evangélicos" (Vita Consecrata n. 59). De facto, a busca de Deus na contemplação é inseparável do amor dos irmãos, amor que nos faz reconhecer o rosto de Cristo no mais pobre dos homens. A contemplação de Cristo vivida na caridade fraterna continua a ser o caminho mais seguro da fecundidade de qualquer vida. São João não deixa de o recordar: "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece-O" (1 Jo 4, 7).
(da Mensagem de João Paulo II, Ao Rev.do Pe. MARCELLIN THEEUWES, Prior da Cartuxa, Ministro-Geral da Ordem dos Cartuxos, a todos os membros da Família cartusiana, 14 de Maio de 2001)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Nª Srª dos Pobres de Banneux
Bélgica
De 15 de Janeiro a 2 de Março de 1933, Nossa Senhora, aparece por oito vezes a Mariette Beco, uma menina de 11 anos, na povoação belga de Banneux.
- Na aparição (3ª) de 19 de Janeiro,
à pergunta de Mariette: “Quem sois vós, bela senhora?”
Responde: “Sou a Virgem dos Pobres.”
- Na aparição (5ª) de 11 de Fevereiro
diz à vidente: “Eu venho aliviar o sofrimento.”
- Na aparição de 15 (6ª) de Fevereiro
pede que se reze muito: “Reza muito.”
- A 20 de Fevereiro (7ª)
volta a pedir oração: “Minha querida menina, reza muito.”
- Na última aparição (8ª), a 2 de Março e antes de se despedir
apresenta-se como a Mãe do Salvador, Mãe de Deus: “Eu sou a Mãe do Salvador, Mãe de Deus” e voltar a pedir oração: “Reza muito."

"Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu." (Mt 5, 3)
«O pobres de hoje – e existem tantas maneiras de ser pobre! Sentem-se em casa em Banneux. Eles vêm aqui procurar o conforto, a coragem, a esperança, a união a Deus nas suas aflições. Encorajo os peregrinos que vêm aqui rezar e aqueles que sempre e na Igreja, reflectem o rosto da Misericórdia de Deus».
João Paulo II, visita a Banneux a 21 de Maio de 1985


sábado, 6 de fevereiro de 2010

CONSAGRADOS PARA AMAR
Todos os baptizados são consagrados para amar e servir, para se entregar a Deus de um modo radical. A unção do Espírito, com a sua consagração, faz dos baptizados consagrados com Cristo. Somos um povo sacerdotal. Mas, entre esses consagrados pelo baptismo, Deus chama alguns jovens, alguns homens ou mulheres para os consagrar para o serviço exclusivo d’Ele e dos irmãos, na vida consagrada: religiosos, religiosas, membros de institutos seculares e de sociedades de vida apostólica. Todos consagrados, vivendo o compromissos dos votos, da oferta radical em castidade, pobreza e obediência, para mais amar e servir.
Os votos feitos pelos consagrados são o modo mais eloquente, mais simples e mais radical de estarem disponíveis para o maior louvor e serviço, para amar com um coração mais universal, para servir sendo «tudo para todos». Os consagrados pelos votos já não se pertencem, são de Deus e dos irmãos e querem viver a sua entrega na maior generosidade. Os votos tornam-nos «propriedade pública», para, de coração universal, prestarem o maior serviço, o bem mais universal, a graça de serem para os outros, dando-se de alma e coração, vivendo para amar e servir sempre e a todos.
Qualquer que seja a espiritualidade, qualquer que seja o carisma, o fundador ou a fundadora, a história da ordem, da congregação, do instituto, da sociedade de vida apostólica, todos têm como elo de unidade e de compromisso este amor universal, esta oferta radical, esta graça de serem servos, para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Os votos, sendo resposta generosa à consagração de Deus, sendo profissão pública de oferta e de generosidade, tornam-nos cidadãos do universo, sentinelas da esperança, corações em amor e em dádiva total de si mesmos. Querem ser castos, pobres e obedientes para poderem amar mais e servir melhor, para morrerem a si próprios e serem todos para os outros, num compromisso de vida evangélica mais audaz e mais radical.
No meio de um mundo consumista, erótico, onde reina o egoísmo, o egocentrismo, de um mundo seduzido pelo ter, pelo aparecer, pelo poder, pelo prazer fútil e sensual, pela opulência, pela violência da força déspota, pela vaidade ridícula, pelo snobismo social, os consagrados, vivendo os votos, querem, com suas vidas, com seus corações abertos ao amor mais universal, que vence fronteiras de raças, de tribos, de cor de pele, que vence distâncias, culturas, querem, apesar das suas fragilidades, ser pessoas de dom generoso, cada vez mais evangélico. Querem imitar Jesus que foi casto e virgem, que foi pobre e humilde, que viveu a obediência amorosa ao Pai e à sua vontade. Querem escrever com suas vidas um «quinto» Evangelho, passando fazendo o bem e sendo testemunhas do amor de Deus.
A maneira de estar no mundo sem ser do mundo dá-lhes um tom de vida um pouco raro, porque diferente da maioria esmagadora dos cristãos, mas que anuncia o Reino futuro, os novos céus e a nova terra. São sinal do Céu, da pátria celeste onde só se viverá o amor. São sinal dessa comunhão, dessa partilha que o amor realiza. Despojados de si e das coisas, vivendo um amor casto, testemunham a comunhão trinitária e vivem o amor de servos dos irmãos e das irmãs. São homens e mulheres que assumem na vida o lava-pés de Jesus, a graça de ser bons pastores, o dom de ser bons samaritanos.
Querem gritar com suas vidas, seus corações e seu dom sempre mais radical e mais audacioso, que Deus, que os consagrou, é amor e os envia a amar sem medida. Querem, como Santa Teresinha, viver a vocação do amor ou, como Santo Inácio de Antioquia, ser trigo moído para serem «hóstias vivas». Querem, como Inácio de Loiola, viver para a maior glória de Deus, ou como Teresa d’Ávila, sofrer ou morrer por Ele. Vivem a paixão de Catarina de Sena, que fazendo do seu coração uma cela para estar com seu Deus, grita que não deseja outra coisa senão fogo ou sangue, para que a imolação revele mais e mais o amor que a devora. Desejando todos, embora sujeitos a muitas fraquezas e tempestades, glorificar, com suas vidas e seus votos, a Trindade Santa.
Dário Pedroso, s.j
(fonte: Mensageiro do Coração de Jesus [Fevereiro]: http://www.apostoladodaoracao.pt/index.php?a=vjriqhrsulvvunqlvtqtrvrnutqjrvqhrnuiqtqlqoqiqrvsrhrsqlvvqtrtrg&c=0)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

2 de Fevereiro
DIA DO CONSAGRADO
Os consagrados, sinal de gratuidade e amor,
contra o efémero

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Vaticano prepara documento sobre os Irmãos
Religiosos que não optaram pelo sacerdócio não têm merecido «atenção», admite Cardeal Franc Rodé
O Vaticano está a preparar um documento sobre os irmãos, os religiosos que não optaram pelo sacerdócio, admitindo que os mesmos não têm merecido atenção suficiente por parte da Igreja.
"Queremos fazer um documento dedicado especialmente a esta figura do irmão leigo, que é uma figura autónoma, uma figura que tem um sentido em si mesma, que tem uma identidade própria", revelou em entrevista à Rádio Vaticano o Cardeal Franc Rodé, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
O Cardeal observou que, desde 1965, o número de irmãos tem diminuído drasticamente, dando como exemplo os das “escolas cristãs” que eram 16 mil em 1965 e hoje são menos de 5000, uma quebra “enorme”, nas suas palavras.
A situação regista-se também nas congregações de sacerdotes e irmãos, nas quais estes últimos têm diminuído a um ritmo mais acelerado do que os primeiros. “Há um problema e é preciso fazer qualquer coisa”, diz D. Franc Rodé.
"Pensamos que uma das razões para essa diminuição seja uma certa falta de atenção por parte da Igreja a esta figura de cristão consagrado que é o irmão : nem o Vaticano II nem os documentos pós-conciliares têm confirmado a importância desta vocação”, admite o membro da Cúria Romana.
Para o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, esta é “uma vocação que tem uma lógica em si mesma, que tem uma missão particular na Igreja e a história comprova-o fortemente".
O documento dedicado à figura do irmão deve ficar pronto no segundo semestre do ano. Em preparação está ainda um documento sobre a oração.
"Hoje, num mundo tão movimentado como o nosso, a oração torna-se certamente mais difícil", afirma o Cardeal Rodé.
Este outro documento deseja responder a "uma certa "ignorância", a uma certa falta de conhecimento e de formação litúrgica nos jovens religiosos e religiosas".
(Fonte: Agência Ecclesia)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Recebamos a luz clara e eterna
Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do Encontro do Senhor, corramos para Ele com todo o fervor do nosso espírito. Ninguém deixe de participar neste Encontro, ninguém se recuse a levar a sua luz.
Levemos em nossas mãos o brilho das velas, para significar o esplendor divino d’Aquele que Se aproxima e ilumina todas as coisas, dissipando as trevas do mal com a sua luz eterna, e também para manifestar o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro de Cristo.
Assim como a Virgem Mãe de Deus levou ao colo a luz verdadeira e a comunicou àqueles que jaziam nas trevas, assim também nós, iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, devemos acorrer pressurosos ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
Na verdade a luz veio ao mundo e, dispersando as trevas que o envolviam, encheu-o de esplendor; visitou-nos do alto o Sol nascente e derramou a sua luz sobre os que se encontravam nas trevas: este é o significado do mistério que hoje celebramos. Caminhemos empunhando as lâmpadas, acorramos trazendo as luzes, não só para indicar que a luz refulge já em nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos há-de vir. Por isso, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Eis que veio a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Todos nós, portanto, irmãos, deixemo-nos iluminar, para que brilhe em nós esta luz verdadeira.
Nenhum fique excluído deste esplendor, nenhum persista em continuar imerso na noite, mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos juntos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara é eterna; associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de acção de graças ao Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, com efeito, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence a nós, que somos o novo Israel; e nós próprios, graças a Ele, vimos essa salvação e fomos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa, tal como Simeão, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que vem de Belém, nos convertemos de pagãos em povo de Deus (Jesus é com efeito a Salvação de Deus Pai) e vemos com os nossos próprios olhos Deus feito carne; e porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer, nos braços do nosso espírito, nos chamamos novo Israel. Com esta festa celebramos cada ano de novo essa presença, que nunca esquecemos.
Dos Sermões de São Sofrónio, bispo
(Orat. 3 de Hypapante, 6-7: PG 87, 3, 3291-3293) (Sec. VII)