segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


O Cardeal Bertone, Secretário de Estado, escreveu a todos os mosteiros, masculinos e femininos, de monges contemplativos.

Vaticano, 21 de fevereiro de 2013
Reverenda Madre, Reverendo Padre,
Dirijo-vos esta mensagem, enquanto a Igreja inteira acompanha com trepidação os últimos dias do luminoso pontificado de Sua Santidade Bento XVI e espera a vinda do Sucessor que os Eminentíssimos Cardeais reunidos em Conclave, guiados pela acção do Espírito Santo, escolherão, depois de terem, juntos, perscrutado os sinais dos tempos da Igreja e do mundo.
O apelo à oração dirigido a todos os fiéis por Sua Santidade Bento XVI, pedindo que O acompanhem no momento da entrega do ministério petrino nas mãos do Senhor e que esperem, confiantes, a vinda do novo Pontífice, faz-se particularmente premente para aqueles membros eleitos da Igreja que são os contemplativos. Sua Santidade Bento XVI tem a certeza de que é de vós, dos vossos Mosteiros – femininos e masculinos – espalhados pelo mundo inteiro, que se pode receber aquele recurso precioso da fé orante que, ao longo dos séculos, acompanha e sustenta o caminho da Igreja. O próximo Conclave poderá, assim, assentar de modo especial sobre a cândida pureza da vossa oração e do vosso louvor. O exemplo mais significativo desta elevação espiritual, que manifesta a dimensão mais verdadeira e profunda de todo o ato eclesial, a do Espírito Santo que guia a Igreja, é-nos oferecido por Sua Santidade Bento XVI que, depois de ter governado a Barca de Pedro por entre os vagalhões da história, escolheu dedicar-se sobretudo à oração, à contemplação do Altíssimo e à reflexão.
O Santo Padre, a quem comuniquei os sentimentos exarados nesta carta, deu a sua aprovação pedindo-me para vos agradecer e atestar o grande amor e consideração que Ele nutre a vosso respeito. Com estima cristã, vos saúdo unindo-me à vossa oração.
Tarcisio Card. Bertone
Secretário de Estado de Sua Santidade

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


Declaração de Renúncia do Papa Bento XVI,
ao ministério petrino
DECLARATIO
Caríssimos Irmãos,
convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


A ALEGRIA DA CONSAGRAÇÃO
A 2 de Fevereiro a Igreja celebra, segundo uma tradição antiga que remonta aos séculos VI-VII, um evento da vida do Senhor que esclarece a sua identidade e missão universal. Trata-se da Apresentação de Jesus no templo por parte dos seus pais (cf. Lucas 2, 22-40). Nesse dia celebra-se contextualmente também o Dia mundial da vida consagrada. O texto evangélico da celebração litúrgica evidencia, num contexto de luz transcendente, o Filho de Deus e da Virgem doado à humanidade como revelação, luz e salvação. O rito ao qual o Menino é submetido declina quer a pertença ao povo das promessas, quer a sua pertença ao Deus da aliança, do qual ele é e será o revelador histórico e escatológico. Ninguém como ele é verdadeiro Filho do Pai; ninguém como ele é autor e consumador da nossa fé (cf. Hebreus 12, 2); ninguém como ele está mais próximo de cada homem que procura a verdade, a santidade e a salvação. A vida religiosa é um dom precioso para a vida da Igreja e para o mundo; dom e experiência plurisseculares que hoje mais do que nunca devem ser defendidos, promovidos, relidos e repropostos às jovens gerações pós-modernas, que pelo menos no Ocidente, parecem desinteressadas deste carisma, doação e serviço. Definitivamente, a vida consagrada é uma existência que se dedica de forma integral - espírito, alma e corpo - isto é toto corde, ao Senhor sumamente amado e servido; para depois se pôr como sinal no mundo e entre os homens de um amor que sacia, dessedenta, apoia e dá alegria. Numa sociedade pós-moderna, que através dos meios de comunicação, das várias formas de publicidade, do permissivismo, confunde amor e sexo e procura evitar a angústia da solidão existencial com a ebriedade de eros sem compromisso nem responsabilidade, a vida consagrada responde que ser amados por Deus em Jesus Cristo pode ser suficiente para superar toda a solidão e irradiar energias de amor oblativo ao serviço dos outros. A alegria é o sentido de plenitude do ser, que é orientada para a sua dimensão mais nobre que é o espírito, pelo qual Gabriel Marcel pode legitimamente falar do gaudium essendi. Sim, a alegria enquadra-se na esfera do ser, é o seu esplendor.
Salvatore M. Perrella
2013-02-02 L’Osservatore Romano
(Fonte: NEWS.VA)